27 de agosto de 2007

Poema Final

Às vezes finjo fazer de conta que sou poeta
A um rabisco me empresto e saio a dançar
Pisando nos cacos, tapando o ouvido

...que é o ruído do chão rachando que me dói.

E escondida a dor de mim, me vejo sorrindo,
Fingindo, é claro, ser poeta.


E posso chegar perto se você quiser
E não me atrevo a duas linhas rabiscar tua presença.
Posso chegar perto, mas não vou tocar.
Tenho medo de ferir, tenho medo de quebrar

...que é o barulho do mundo quebrando que me dói.

E evitada a dor por mim, me vejo feliz
Fingindo, é claro, ser poeta.


Inda fingindo me ver brincar de poeta
Procuro passos no azulejo do banheiro e vou guardando
Juntando os pedaços das palavras caídas.
Penso ser fácil fugir depois que elas escaparam de mim

...que é o som das palavras caindo que me dói.

E impedida a dor em mim, me vejo partindo.
Fingindo, é claro, ser poeta.


O mais tardar escrevo um livro e publico
Com aquele soneto velho que deixei no lençol da cama
Pra que você poeta pudesse acordar
E perceber que o sonho continuava mesmo sem você

...que é o silencio do sonho acabando que me dói.

E refeita a dor por mim, me vejo acordado.
Fingindo, é claro, ser poeta.


Uma parte minha já não faz questão de ser,
Uma outra ainda não apareceu,
Mas essa que se diz poeta está perdida entre a entrada e a saída
E sempre evita se encontrar

...que é o grito da porta fechando que me dói.

E perdida a dor de mim, me vejo perdido.
Fingindo, é claro, ser poeta.


(Samuel Giacomelli e Cássio Machado)