21 de novembro de 2007

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Desinência verbal. Saber de cor uma infinidades de combinações soltas... sem nenhum contato mais terno com a língua. A coisa vinha assim de solavanco. Entrando com tudo que nem copo d’água fazia desentalar.
Acho que hoje eu falo e penso e escrevo também pelo tanto que li. Ou lia... faz tempo que não namoro com um livro. Deitar na rede e dormir quando a história ficasse chata. É tão perigoso falar de memórias de leitor porque tendemos sempre a romancear as coisas. Eu nunca deitei em rede pra ler. Deitava na cama no sofá, mas nunca em rede. Dormir eu sempre dormia. Mas sempre depois de vencer as páginas que tinha me proposto a vencer naquele dia.
Assim li desde pequeno. Minha mãe me facilitou o encontro com os livros quando fiz a primeira bomba caseira. Depois disso ficou fácil estudar o poder da pólvora. Mistura de carvão, enxofre e nitrato de potássio, é considerada um "baixo explosivo", porque só explode se estiver comprimida (do contrário ela apenas queima). Sua explosão é suficiente para empurrar a bala pelo cano de um revólver, mas não para explodi-lo. Brinquei muito com pólvora.
Depois experimentei as bananas de dinamite. Passei para o TNT, trabalhei com o PETN e hoje preparei uma surpresa de C4, um explosivo plástico maleável que pode ser preso a qualquer coisa.
Só explode com a ajuda de um detonador.
Bem embaixo da cadeira. De cada um.

Saco. Esqueci de trazer comigo um exemplar do Alcorão que eu ganhei de Natal. Vai que de repente tem algum judeu na viagem.




FAHRENHEIT 451 - FRANÇOIS TRUFFAUT

A existência de uma biblioteca secreta era conhecida nas mais altas esferas... mas não havia maneira de a encontrar. Apenas uma vez vi tantos livros juntos em um único lugar. Eu era um simples bombeiro na época. Nem era qualificado para usar o lança-chamas.É tudo nosso, Montag.
Ouça me, Montag. Cada bombeiro, pelo menos uma vez na sua carreira tem muita vontade de saber o que tem nos livros. Até dois de querer saber. Não é verdade?
Acredite em mim, Montag. Não tem nada. Os livros não tem nada a dizer. Olhe, estes são todos romances. Todos sobre pessoas que nunca existiram. As pessoas que os lêem tornam-se infelizes com suas vidas. Faz com que elas queiram viver de uma maneira quase impossível.
Vamos lá, Montag. Toda essa filosofia, vamos nos livrar dela. É ainda pior que os romances.
Pensadores, filósofos, todos dizem exatamente a mesma coisa. “Eu é que tenho razão. Todos os outros são idiotas.” Em um século dizem que o destino do Homem está pré-definido. No seguinte, dizem que tem liberdade de escolha. Não passa de uma moda, só isso. Filosofia. Tal qual vestidos curtos neste ano, vestidos cumpridos no próximo.
Olhe. Todas essas histórias sobre os mortos. Chama-se biografia. E auto-biografia. A minha vida. O meu diário. As minhas memórias. As minhas memórias íntimas. Claro que, quando começaram, era apenas uma vontade de escrever. Depois, após o segundo livro, queriam apenas satisfazer a sua vaidade. Destacar-se no meio da multidão, ser diferente. Poder olhar para os outros como se estivesse num pedestal.
Ah! Um premiado pelos críticos. Este é um dos bons. Claro que tinha os críticos do lado dele. Muito sortudo.
Diga-me uma coisa, Montag. Quantos prêmios literários foram dados neste país, em média por ano? 5? 10? 40? Nada menos que 1.200. Qualquer um que escrevesse qualquer coisa estava destinado a ganhar um prêmio.
Robinson Crusoé. Negros não gostavam dele por causa do Sexta-feira.
E Niestzsche? O judeus não gostavam do Niestzsche.
Agora aqui está um livro sobre câncer de pulmão. Todos os fumantes entraram em pânico e por isso e pela paz de espírito, nós o queimaremos.
Agora este deve ser muito profundo. A Ética de Aristóteles. Qualquer um que tenha lido acredita que está acima de quem não o leu. Você vê, não é nada bom, Montag. Todos temos de ser semelhantes.
A única maneira de sermos felizes é se todos formos iguais. Por isso temos que queimar os livros, Montag. Todos os livros.



Eu não perdi a sensibilidade de alma, perdi? É porque faz tanto tempo que não vejo uma coisa bonita que me faz calar...Não! Estou sendo injusto. Aconteceu meu primo nasceu que de tão novo e eu já velho virei padrinho.

Fausto vestiu sua capa para sair numa noite sozinho.

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